Conta-se que uma princesa de pele “alva” e de cabelos cor de oiro nunca saía da torre, mas aparecia várias vezes à janela. Muitos eram os cavaleiros que ficavam diante da torre, à espera que ela aparecesse à dita janela, oferecendo finos e exóticos presentes para conquistar o seu coração. Maria Alva não se deixava impressionar com os presentes, devolvia tudo no dia seguinte e aparecia à janela triste, acenando ao cavaleiro desiludido.
Um dia a princesa disse: “- Caso com quem me oferecer um par de sapatos à medida do meu pé”.
Com essa declaração, foram muitos os cavaleiros em busca do melhor sapateiro para encomendar sapatos de variados tamanhos, formatos e cores. Houve mesmo um sapateiro famoso chamado Ramiro, que se divertia a espicaçar os seus clientes, dizendo:
“- Se ela faz tanto mistério à conta dos pés é porque os tem bem pequeninos. Encomende o senhor uns sapatos de boneca e vai ver que acerta”. Mal o cliente saía, a conversa mudava e ao seguinte dizia exactamente o contrário.
À conta disso, este sapateiro ganhou muito dinheiro. Mas o que é certo, é que ninguém acertava e os sapatos, depois de experimentados, eram atirados pela janela abaixo, o que desmoralizava qualquer um…
Mas houve um príncipe muito esperto, que lembrou-se de arranjar uma maneira de ter as medidas dos pés da dita dama: pagou um criado para espalhar farinha junto à cama da princesa. Na manhã seguinte, quando a princesa se levantou, deixou uma pegada no chão.
Para o espanto do criado, quando ia tirar o molde do pé viu que, não se tratava de um pé humano, mas sim de pés de cabra. Este quando contou ao príncipe, aconselhou-o a esquecer essa princesa, que mais parecia “obra do diabo”. Prometeu-lhe que não contava a ninguém, com pena do príncipe. Este não lhe respondeu, pagou-lhe em dobro o que lhe tinha prometido pelos seus serviços e levou consigo o molde do pé.
Secretamente, encomendou os sapatos a Ramiro, de acordo com o molde em troca de uma arca cheia de moedas de ouro e de prata. Ainda que hesitante, depois de se benzer três vezes, pedir protecção a Nossa Senhora dos Remédios e de se justificar com o Santiago, fez os sapatos em três dias.
O príncipe, depois de levantar a encomenda, dirigiu-se à torre, curioso com a reacção da princesa. Minutos depois da entrega da prenda, ouviu-se um grito medonho e começaram a sair faíscas e fumo pela janela. Toda a gente fugiu apavorada da torre, pensando tratar-se de um incêndio, menos o príncipe, que não arredou o pé dali. Foi o único que não arredou pé dali e ficou á espera par a ver a dama, não da janela, mas da porta da torre, feliz, caminhando descalça e em bicos de pés delicados. O príncipe chegou junto dela e abraçaram-se.
A Dama, feliz agradeceu-lhe por ter conseguido quebrar o encanto. Contou que uma bruxa malvada lhe tinha lançado um encanto: enclausurou-a na torre com pés de cabra e só poderia ser quebrado se recebesse de alguém de presente um par de sapatos à medida.
O príncipe casou-se com a princesa, fez uma peregrinação a Santiago de Compostela e mandou construir uma casa de pedra para viver com a família.
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