segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As casas de Sortelha





















Esta imagem, podemos pensar que alí já esteve, provavelmente uma casa. Achei curiosa a forma como aproveitaram o rochedo para erguer uma entrada.



O que resta são apenas ruínas... são poucas as que se mantêm erguidas. Um dia aquelas pedras duras, já foram alvo de admiração e de orgulho de quem as colocou aí. Agora não passam frágeis e esquecidas pedras, mas cheias de orgulho e desejosas para nos contarem imensas histórias vividas ali, fosse dentro ou fora de quatro paredes.

Cada casa que encontramos tem uma história para contar. Nelas é possível imaginar como seria viver noutros tempos e adivinhar o estatuto social dos primeiros ocupantes da aldeia. A diferenciação social reflecte-se no modo como contruiam as casas. Quanto mais trabalhada a pedra, maior era a fortuna e a importância de cada família.















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Na aldeia de Sortelha não é excepção. A maioria dos fogos intra-muros são casas de camponeses, ainda muito bem conservadas, cuja construção em pedra granítica é a mais simples possível. Sem qualquer decoração arquitectónica, são casas habitualmente com dois pisos: o térreo onde guardavam os produtos agrícolas e os animais; e o piso de cima, destinado à habitação , cujo acesso habitualmente era feito pelo balcão (escadas externas à casa). São poucas com pequenos alpendres , onde ainda hoje podemos encontrar uma pequenina horta, com duas valências: para enfeitar e para servir de ingrediente da sopinha caseirinha.

Encontramos também casas pertencentes a grandes famílias da região, com construções que oscilam entre o séc. XIII-XVIII.

Exemplos como aquelas que encontramos logo à entrada da aldeia.











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  • a casa número um, cujo balcão e janelas, embora trabalhadas com simplicidade, não passam despercebidos. Terá pertencido à família Ferreira Ferraz, antigos alcaides de Sortelha.
  • a casa setecentista e a casa dos Falcões, embora tenham sofrido alterações posteriores, partilham um belissimo balcão geminado que dava a cessoào sio da habitação. Actualmente o edifício setecentista foi recuperado para restauração onde pode experimentar pratos gastronómicos típicos da região.

Brevemente iremos mostrar outras belíssimas casas de sortelha, que valem a pena serem olhadas.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sortelha: o que te espera, depois dos momentos gloriosos?




Imagem retirada da Internet: Bracejo

Passeando pelas ruas de Sortelha, encontrámos duas senhoras, a Felismina e a Encarnação, sentadas a conversar em banquinhos de madeira a apanhar o sol da tarde, enquanto trabalhavam . Não estavam a fazer rendas, nem arraiolos, como é normal por estas bandas. Estavam a fazer pequenos guarda-joias, cestinhas, entre outros objectos de decoração em bracejo, para vender aos turistas. O bracejo é uma planta que recolhem no campo e, com a ajuda da ráfia e da agulha, entrelaçam-na tranformando nesses singulares objectos. Dizem ser uma forma de se entreterem e de ganharem algum dinheirito, já que as suas refomas são tão pequenas. Em conversa , ficámos a saber que são poucas as pessoas que neste momento habitam no arrabalde, onde foi inicialmente erguida a aldeia: apenas 8: são 7 adultos e uma criança.

O que aconteceu àquela gente que já encheu a aldeia de alegria e de muita vida? Disseram elas que tiveram que sair, em busca de trabalho...alguns resolveram afixar-se no Fundão, outros em Lisboa e muitos no estrangeiro. Agora só voltam para passar férias no verão.

Uma realidade semelhante a tantas outras aldeias do interior... em que a aldeia já foi um lugar fundamental para a consolidação da independência, em relação ao Reino de Leão, e incentivado para o seu povoamento e afixação, pelo rei D. Sancho I. A partir de 1181, foi reconhecida pelo seu neto, D.SanchoII, com a atribuição do primeiro foral .

A construção do seu castelo, a 800 metros de altura , apesar da sua conclusão tardia(sec.XIII), confirmou a sua importância, enquanto ponto estratégico para a defesa do território, face às condições naturais que oferecia para uma vigilância mais eficaz, em relação aos nossos vizinhos, que muito cobiçavam esta aldeia.

Feito o Tratado de Alcanises, Sortelha passou a ser oficialmente integrada no nosso território, tal como todo ribacoa, perdendo assim a sua importância estratégica. Ao logo de vários séculos o Castelo foi alvo de várias obras e restauros, especialmente durante o reinado de D. Manuel I, que lhe devolve a sua importância com a promulgação de um novo foral em 1510 e a colocação do seu pelourinho.

O último grande momento de Sortelha terá sido no século séc. XIX, com as invasões francesas, em que parte da muralha caiu, durante as lutas aí travadas.

Hoje o Castelo é considerado Monumento Nacional, para além da aldeia ter sido classificada como Aldeia Histórica de Portugal.

Agora, Sortelha tem sido fonte de inspiração de grandes nomes, como Saramago, onde predomina o sossego, a tradição, a calma, a ruralidade, a genuidade, em cada rua, em cada casa, em cada janela.
A memória, o legado heroicamente conquistado com sangue e suor é uma marca bem presente em cada pedra deste lugar.

Aqui é possível imaginar o quotidiano simples dos seus habitantes, que se levantam para tratarem das suas hortinhas no arrabalde até ao final do dia. Ao serão, em pleno Inverno, aconchegam-se no interior das suas casinhas de granito, enquanto se aquecem à lareira, ouvem histórias misteriosas de mouras encantadas e tesouros escondidos, contadas pelos mais velhos anfitriãos.

Agora, deixo esta pergunta, com que iniciei toda esta prosa, para quem quiser comentar:

Sortelha: o que te espera, depois dos momentos gloriosos?