segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Viagem a Marialva adiada

Lamento informar os leitores deste blog, que a continuação da nossa viagem por terras de Marialva terá que ser adiada para a próxima 2ªfeira.

A razão deste adiamento deve-se ao facto de que alguém muito próximo de mim decidiu partir numa viagem sem volta . Por respeito e amor a essa pessoa, vou apenas retomar, o que deixei na semana passada, apenas na próxima semana.

Obrigada pela compreensão e até para a próxima segunda-feira.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Passeando por Marialva com Saramago





Durante a viagem até Marialva, falei sobre a região onde se insere a aldeia. Estamos praticamente a chegar ao nosso destino e encontro, pelo caminho (e com grande surpresa) uma personalidade de grande renome nacional, Nobel da Literatura Portuguesa o escritor José Saramago. É com muito prazer que os convido a entrar em Marialva, na companhia deste ilustre escritor, que fez questão de escrever sobre esta magnífica aldeia , como se fosse uma"visita guiada":










" Vai o viajante continuar para norte, pela estrada a nascente da ribeira de Teja(...). Passa em Pai Penela, e, dando a volta por Mêda e Longroiva (...), apanha a estrada que vem de Vila Nova de Foz Côa e torna para sul. O caminho agora é planície,ou, com rigor maior, de planalto, os olhos podem alongar-se à vontade,e mais se alongarão lá de cima, de Marialva, a velha, que esta fundeira não tem motivos de luzimento que excedam os legítimos de qualquer terra habitada e de trabalho(...)





Marialva foi chamada, em tempos antigos, Malva. Antes de o saber, o viajante julgou que seria contracção de um nome composto, Maria Alva, nome de mulher. E ainda agora não se resigna a aceitar que o primeiro baptismo venha do rei Leão, Fernando Magno, como dizem certos autores. Sua Mercê não veio, evidentemente, de Leão aqui para ver se esta montanha quadrava bem o nome de Malva. Curou por informações, algum frade que por cá passou e tendo visto malvas julgou que era a terra delas, sem reparar, em seu recato de frade preceituado, que naquela casa hoje arruinada vivia a mais bela rapariga do monte, prescisamente chamada Maria Alva, como ao viajante convém para justificar e defender a sua tese. (...)







De indiferente e calado se não pode acusar o castelo. Nem a vila velha, as ruas trepam a encosta, nem quem aqui mora. O viajante sobe e dão-lhe as boas-tardes com tranquila voz. Estão mulheres costurando às portas, brincam algumas crianças. O sol está deste lado do monte, bate nas muralhas com clara luz. A tarde vai em meio, não há vento. O viajante entra no castelo, daqui a pouco virá o velho Brígida dizer onde está a arca da pólvora, mas agora é um solitário que vai à descoberta do que, a partir deste dia, ficará sendo, no seu espírito, o castelo da atmosfera perfeita, o mais habitado de invisíveis presenças, o lugar bruxo, para dizer tudo em duas palavras.







Neste largo onde está a cisterna, onde o pelourinho está, dividido entre a luz e a sombra, adeja um silêncio sussurrante. Há restos de casas, a alcáçova, o tribunal, a cadeia, outros não se distinguem já, e é este conjunto de edificações em ruínas, o elo misterioso que as liga, a memória presente dos que viveram aqui, que subitamente comove o viajante, lhe aperta a garganta e faz subir lágrimas aos olhos. Não se diga daí que o viajante é romântico, diga-se antes que é homem com muita sorte: ter vindo neste dia, nesta hora, sozinho entrar e sozinho estar e ser dotado de sensibilidade capaz de captar e reter esta presença do passado, da história, dos homens e das mulheres que neste castelo viveram, amaram, trabalharam, sofreram, morreram.





O viajante sente o Castelo de Marialva uma grande responsabilidade. Por um minuto, e tão intensamente que chegou a tornar-se insuportável, viu-se como ponto mediano entre o que passou e o que virá.



Experimente quem o lê ver-se assim, e venha depois dizer como se sentiu.(...)"


in: Saramago, José, "Viagem a Portugal", Caminho, pag. 117,118, 17ª edição, Dez.1998.







Aceite este convite, do nosso ilustre nobel e confirme por si mesmo. Ele próprio deixou um marco quando passou por lá, em 1998.




Depois dessa viagem deslumbrante, já tem , concerteza apetite para uma boa refeição. Para tal eu sugiro um saltinho até à cidade de Mêda, a 7 km, para saborear, no simpático restaurante Sete e Meio, o melhor da região:


- sopa de legumes do dia

- prato típico "Posta dos pobres (parte especial de lombo de porco com batata a murro e molho secreto);

- acompanhamento: legumes da época e da região

- vinho tinto "Medalva" ou "Adega de Mêda"

- sobremesa : pudim de requeijão (requeijão, ovos e amêndoa moída)

- café



Preço final 17,50 € para duas pessoas

Para mais informações,
consulte: http://www.seteemeio.com/
contacte: 279 883 272

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Para descansar por terras de Marialva, porque não regressar à aldeia e desfrutar do silêncio,num ambiente requintado e acolhedor, típico da aldeia, nas famosas "Casas do Coro".







Para mais informações,

consulte o site : http://www.casasdocoro.com.pt/

contacte: 91 755 20 20


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E por hoje ficamos por aqui.

Gostou da viagem? Então , cá estaremos na próxima semana para descobrirmos um pouco mais sobre as figuras emblemáticas de Marialva.



Tenha uma boa semana e bons passeios!



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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Descobrindo Marialva...


Como ficou prometido, vamos iniciar a nossa viagem, com destino a Marialva, uma Aldeia Histórica bem guardada no coração da região da Mêda, como um dos tesouros mais preciosos da região.


Tendo como ponto de partida a cidade de Lisboa, temos duas alternativas no trajecto a suguir:

1) Auto-estrada A1 (Lisboa-Coimbra); IP3 (Coimbra-Guarda) saída em Celorico da Beira para apanhar a E.N. 102/IP2 (direcção a Trancoso- Mêda); saída para Marialva pela E.N. 324.


2) Auto-estrada A1 até ligação da A23 ( direcção Beira interior/Guarda); apanhar a A25 (direcção a Viseu-Aveiro), saída em Celorico da Beira, que segue pela E.N.102/IP2 ( direcção a Trancoso-Mêda) saída para Marialva pela EN 324.

Informação a ter em conta:
- a segunda opção é mais económica (o acesso A23 é gratuito) :
- a duração dos percursos propostos têm o mesmo tempo aproximado: 4 horas ( respeitando a velocidade permitida)
- para planear a sua viagem com mais pormenores, consulte : http://www.viamichelin.fr/ ;

Ao longo dessa longa viagem , podemos aproveitar para visionar no mapa a localização de Marialva e da cidade de Mêda. Ambas localizam-se no norte de Portugal, a 70 km da cidade da Guarda , na zona de transição entre o Planalto Beirão e o Alto Douro. A cidade de Mêda é a sede de concelho, do qual faz parte Marialva, entre as restantes 15 freguesias, perfazendo uma área de 296 Km2. Como vizinhos tem os concelhos de Pinhel, Penedono, Trancoso e Vila Nova de Foz Côa.

Se pretende visitar esta região nesta época do ano ( Fevereiro), vai encontrar um inverno um pouco rigoroso, com a temperatura média de 5º graus c. , sendo por isso habitual a geada, chuva e por vezes neve. Enquanto que o Verão é seco e muito quente, com a temperatura média de 20º c.

Um dos pontos fortes e motivo de grande procura, por parte dos turistas, são os vinhos produzidos pela Adega Cooperativa de Mêda, pelo facto de o concelho fazer parte da Região demarcada do Douro, dos quais destacam-se os de Longroiva, de Fontelonga e do Poço-do-Canto.

O outro ponto de atracção são as Termas de Longroiva, cuja água mineral natural apresenta propriedades indicadas para tratamento de problemas reumáticos e respiratórios.

O concelho é muito rico em património histórico, recheado de grande História e de pequenas histórias, as quais fazem parte da cultura e identidade dos medenses. Património esse que tenho orgulho e farei gosto em partilhá-lo convosco, começando com o seu maior tesouro:



Marialva
Marialva é uma terra cheia de memórias. A prova disso é o seu próprio nome.

Começou por chamar-se de AVAROR ( "da alta colina"), com a chegada dos primeiros fundadores - Túndulos- no séc. VI a.c , onde ergueram o primeiro castro dos aravos, ainda antes da presença dos romanos.



Com o domínio romano, a povoação passou a denominar-se de "CIVITAS ARAVORUM"(cidade dos aravos). No tempo de Adriano e de Trajano recontruiram o castelo, fizeram estradas e a "Naumaquia", onde tinham os banhos públicos.



No tempo das invasões bárbaras, instalaram-se aí os visigodos, que passaram a chamá-la de "Monte de S.Justo ".



Segue-se o domínio dos mouros, que a batizaram de MALVA e deixaram várias histórias de encantamento.



Com a chegada do tempo da reconquista, D. Fernando Magno de Leão chamou-a, então, Marialva em 1063.



A partir daqui Marialva torna-se num dos pontos estratégicos de defesa do reinado de Portugal, durante a reconquista cristã.

Gostou de saber um pouco sobre a região?
Na próxima semana convido-o(a) a continuar esta viagem experimentando os sabores da região.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Como tudo começou...

Em 1995 iniciou-se um programa de intervenção na região da Beira Interior, em 10 Aldeias [Almeida, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha- a -Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão e Sortelha ] distinguidas e classificadas como “Aldeias Históricas de Portugal” , dada “ a diversidade da sua matriz cultural, a riqueza do seu património e a força das suas vivências e tradições singulares (1) “.
Em 2003 juntaram-se mais duas, Trancoso e Belmonte, completando assim o conjunto de 12 aldeias. Essa distinção transformou-se numa mais-valia para a região, enquanto guardiãs de uma memória colectiva a valorizar e a promover , como parte integrante da identidade nacional.

Nesse Programa de Recuperação das Aldeias Históricas de Portugal (PRAHP), participaram várias entidades , das quais se destacam a antiga IPPAR ( Instituto Português do Património Arquitectónico), a Comissão de Coordenação da Região Centro(CCRC), as autarquias locais e algumas entidades privadas.
O referido programa tinha como principal objectivo travar problemas do interior ,como o envelhecimento, a desertificação populacional, a fraca capacidade produtiva e empreendedora da região, entre outros, que comprometiam o desenvolvimento da economia local e regional.

Neste contexto , considerou-se prioritária uma intervenção a vários níveis, a fim de criar condições para dinamizar o seu potencial turístico e histórico :
- Recuperação de património ( arranjos urbanísticos, fachadas)
- Investimentos públicos e privados (em infra-estruturas básicas, equipamentos turísticos)
- Promoção e Divulgação ( acções de promoção e de animação; publicações)
- Animação das economias locais ( incentivo para criação de microempresas na área de Hotelaria/Restauração/Turismo Rural) a fim de integrar e articular os recursos da região ;

O programa de recuperação das AHP tem sido desenvolvido em várias fases, das quais duas delas foram concluídas entre 1995-1999 e 2000-02, respectivamente. As intervenções realizadas “(…)mobilizou, a nível local, regional e central, entidades e iniciativas complementares, que lhe conferem uma dinâmica integrada e inovadora . O balanço de oito anos de intervenção reflecte as apostas efectuadas em domínios nucleares como a valorização do património e a melhoria de qualidade de vida das populações residentes, que representam 75% do investimento realizado.”[=35 milhões de euros de investimento]

Desse esforço conjunto , criou-se então a rede das Aldeias Históricas de Portugal , que se transformou numa referência na Beira Interior e ajudou a aumentar a auto -estima local, a combater o estigma de isolamento e dinamizou o sector turístico da região.

Terminado o programa em 2002, as Aldeias Históricas de Portugal foram entregues à gestão de cada Município, onde se integram .
A fim de retomar a cooperação entre as entidades que participaram no programa de recuperação( Municípios e entidades privadas locais), e rentabilizar a potencialidade da Rede das Aldeias Históricas de Portugal, foi criada em 2006 a Associação de Desenvolvimento Turístico das Aldeias Históricas de Portugal. Em 2008 decorreu a 1ª Assembleia Geral a fim de definir o organigrama da associação, resultando a nomeação do Presidente da Associação o Senhor Eng.º Ricardo Alves, (Presidente da Câmara de Arganil, que gere a Aldeia Histórica de Piódão); fazendo também parte da direcção o Presidente da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo( gere a aldeia de Castelo Rodrigo), na qualidade de Vice-presidente da Associação, assim como integram na direcção da mesma os Municípios de Idanha-a-Nova e de Belmonte; a Freguesia de Sortelha, as “Casas de Coro”, de Marialva, e a empresa Y Travel .

Para retomar um novo ciclo ao programa de Recuperação da Rede das Aldeias Históricas de Portugal , em Janeiro de 2009 a referida associação efectuou uma candidatura no Programa de Valorização Económica de Recursos Endógenos (PROVERE), (inserido nos apoios comunitários do Quadro de Referência Estratégico Nacional -QREN) em conjunto com empresas públicas e privadas.

Ficaremos, então a aguardar por este novo ciclo que está prestes a começar, com novas ideias, muita vontade para inovar , encarando o legado histórico como uma oportunidade para dar largos passos para o Futuro.

Até lá, proponho fazer uma viagem às 12 Belíssimas Aldeias Históricas de Portugal.

Programa da visita:
- ponto de encontro: Blog “Descubra as Aldeias Históricas de Portugal”
- Primeira paragem: Marialva, dia 9 de Fevereiro,
- Hora de chegada: 18h. da tarde

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Notas Bibliográficas:
(1) Dr. João Vasco Ribeiro, Presidente da Comissão de Coordenação da Região Centro em 2002, in “Aldeias históricas de Portugal, Um património com Futuro”, edição da Comissão de Coordenação da Região Centro, Coimbra, Outubro de 2002.
(2) Dra. Maria Isabel Boura, Coordenadora das Acções Inovadoras de Dinamização das Aldeias, em 2002 in idem anterior.

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